"Júlia, eu tô com um pressentimento ruim"
"Júlia, eu tô com um pressentimento ruim"

terça-feira, 15 de março de 2016

Uma e dez da tarde. Assim como todo mundo da sala, eu estava louca pra vazar daquela maldita sétima aula que não tinha conseguido matar por conta da droga da professora de Inglês, que decidiu brotar na sala mais rápida que o Flash. Quando o sinal bateu nem um "adeus professora" rolou, foram apenas mochilas nas costas e passos apressados para fora da sala. Eu, Bia e Júlia não ficamos fora disso, mas diferente dos outros, estávamos conversando animadas sobre futuros projetos enquanto íamos para o ponto de ônibus. No caminho do ponto, vi o meu busão e o da Júlia, o tão esperado 01 passar na rua ao nosso lado, sem parar, sem nos esperar. É... seria um longo dia.


            Antes de atravessar a rua para o ponto certo, onde um próximo 01 nos levaria pra casa, outro ponto existia na rua em que estávamos, no ponto desse lado passava outro 01, mas com o nome de Esperança. Esse é nada mais, nada menos do que o ônibus que a Júlia pega para vir pra escola, então que mal faria nós pegarmos ele para voltarmos para casa também? Até porque, ele já estava lá no ponto, pronto para entrarmos! Falando desse jeito parece uma coisa totalmente inocente e que daria certo, não é? POIS É. FALEM ISSO PRA DEUS, POR FAVOR. PORQUE NÃO FOI O QUE ACONTECEU.
        Nos primeiros 10-15 minutos estava tudo bem, estávamos seguindo um caminho que ambas conhecíamos e sabíamos também onde o ônibus poderia fazer uma pequena volta e "uopa" ir pro lugar onde queríamos ir. SÓ QUE, depois de um pouco mais desses minutos o ônibus começou a ir mais além do que deveria e a minha ficha começou a cair de que o ponto final dele era uma tal de Vila Esperança E NÃO O OUTRO LADO, QUE ERA O CERTO. Ok. O desespero já tava começando a brotar mais eu tentei manter a calma, ficava olhando para os lados, respirando fundo.. Olhava pra Júlia. Ela sabia que tava dando merda, o medo tava estampado na cara dela mas ela também não quis falar nada e se eu falasse algo achei que iria deixar a menina em pânico então eu preferi ficar quieta e tentar agir como uma líder que sabe como sair dessas situações de cagaço. 
              Depois de mais algum tempo eu e a Júlia passamos a catraca e fomos sentar num banco no fundo do ônibus, eu só observando a paisagem de um lugar totalmente desconhecido pra mim e que tava despertando a pior sensação de "fodeu" muito hardmente em todo meu corpo. Até que o ônibus para numa descida, no meio de uma favela e o cobrador avisa que temos que sair.
               "Não pode c" - pensei e depois olhei pra Júlia, tirando os fones.
               "Júlia, eu tô com um pressentimento ruim"
               "Eu também tô ;-;"
            "Pergunta pro cobrador se esse é mesmo o ponto final e quando sai o próximo ônibus pro outro lado pelo amor de Deus" - e ela foi perguntar, o cobrador assentiu pra primeira pergunta e disse que o próximo estava saindo naquele momento. Falou pra gente correr pro outro ônibus. SEBO NAS CANELAS, CACETE. Corremos. O motorista do ônibus em que estávamos até foi gente boa e buzinou pra avisar o outro que a gente estava indo, pra ele não sair sem as duas mulas quadradas.
               "Pegaram o ônibus errado, foi?" - o motorista do busão certo perguntou. Assentimos, ofegantes. "Ok, ok, entrem lá por trás que a gente já vai sair" - fomos sem demora em dois bancos do fundo. Naquele momento não tinha o que esconder, o medo era mais de 8000 naquela hora, o cagaço de se foder caso alguém (mãe) descobrisse tava estampado na cara. Eu segurei a mão da Júlia e olhei pra ela.
               Começamos a rir.
               Sim.
               A situação tinha sido tão estupidamente perigosa, de certa forma, porque nós não sabíamos onde estávamos, se o busão não estivesse lá quando chegamos nós iríamos ficar esperando num lugar estranho e sozinhas. E tudo isso porque estávamos loucas pra chegar em casa mais rápido, nem nos tocamos de que aquele ônibus estava indo pro lado errado ou usamos qualquer outro tipo de pensamento racional. Nós não estávamos acreditando naquilo. Eu pedi desculpas, claro, até porque a ideia de pegar aquele 01 foi minha.
               E eu agradeço por nesse ônibus de volta um senhor vendendo algodão doce estar indo também, porque a gente precisava de um pouco de açúcar pra se acalmar. Uma vez que estávamos de volta para onde conhecíamos as coisas ficaram mais calmas e a Júlia até dormiu, ela merecia. Cedi meu ombro de travesseiro pra ela.
                Fora algumas perguntas sobre o por que diabos eu tinha chegado no serviço três horas da tarde, minha mãe não foi mais fundo pra descobrir toda a verdade, apenas uma história sobre um atraso de ônibus e um trânsito já foi suficiente. O quê? Eu até contaria a verdade, mas a partir do momento que eu sou eu e que ano passado, logo no primeiro dia de aula, eu fiz a mesma burrada e peguei um ônibus errado pra voltar - tudo bem que nesse caso foram só algumas ruas pra trás de onde eu devia ter chegado que eu fui parar, mas eram ruas um tanto quanto: "não ande sozinha ai se você quiser seu celular intacto", então minha mãe deu um pequeno surto e eu tive que voltar por um tempo de perua escolar até ter confiança de novo. Quem sabe quando essa história ficar mais fria eu conte espontaneamente? "HEY, SABE QUE UMA VEZ EU E A JÚLIA FOMOS PARAR LÁ NA PUTA QUE PARIU PORQUE PEGAMOS O ÔNIBUS ERRADO? :D"
.......
Ou talvez eu deva guardar essa história para meus sobrinhos, como uma lição de vida para ensinar a eles: "não vá na onda da sua amiga, que no caso sou eu, louca e que está exausta do colégio, falous? ela não sabe o que tá fazendo", é, eles vão fazer um uso melhor dessa lição. Vou dizer que eles podem me ligar caso não me ouçam e vão parar na pqp de novo, preciso dar uma base de segurança pras crianças, né nom?

{Todos os fatos dessa... crônica...?... são verídicos, do dia 15/03/2016, com a participação de Júlia/Pequeno Pônei - @gravidadojimin no twitter}

3 comentários:

  1. Meu deus, não pude controlar o riso durante a narrativa. Amei seu jeito de escrever e me senti na dua aventura, afinal quem nunca pegou o ônibus errado né? Km
    Beijos

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    1. Hahaah~ fico feliz de ter conseguido risadas com essa aventura minha! Que bom que gostou!
      Sim, quem nunca?!
      Beeeeeeeeijos~

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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